quarta-feira, 18 de maio de 2011

ALGUÉM TRAMOU O DIRECTOR DO FMI?

Ganha fôlego a tese de que o director do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn foi vítima de uma conspiração, orquestrada por alguém ligado à UMP, o partido
do Presidente francês Nicolas Sarkozy, que assim afastaria o seu principal obstáculo
à reeleição em 2012.
Esta pista é evocada por políticos tanto de esquerda como de direita, diz o jornal “Libération”, e está a crescer na Internet devido ao tweet lançado por um jovem militante da UMP, Jonathan Pinet, às 22h59 (hora de Paris, mais uma hora do que em Portugal) de sábado: “Um amigo nos Estados Unidos acaba de me dizer que DSK terá sido preso pela polícia num hotel em NYC há uma hora”.

Ora este post no site de microblogging Twitter é muitíssimo curioso, porque foi lançado na rede apenas 19 minutos após Dominique Strauss-Kahn (popularmente conhecido pelos franceses como DSK) ter sido detido no aeroporto JFK em Queens, Nova Iorque. O amigo de Pinet sabia do que se tinha passado no hotel Sofitel, em Manhattan, onde estava alojado DSK, e onde se terá ocorrido a alegada agressão sexual, tentativa de violação e sequestro de uma empregada de hotel pelo director do FMI.

A rapidez com que se deu uma fuga de informação sobre a detenção de Strauss-Kahn foi notada no sítio de participação dos leitores Le Post.fr. O alerta foi dado por um artigo de um leitor, que acabou por ser muito citado pelas conjecturas que fez, diz o “Le Fígaro”, jornal conotado com a UMP.

É sublinhado também que o primeiro site francês a dar a notícia foi o 24heuresactu, ligado à direita francesa, e a rapidez com que Arnaud Dassier, um dos investidores por trás do site Atlantico, comentou a notícia. O site Atlantico fez revelações sobre o caso que ainda na semana passada trazia DSK nas páginas dos jornais, relativo a uma foto em que se via o director do FMI a sair de um Porsche Panamera. A imagem foi publicada inicialmente pelo “France Soir”, e levou a imprensa francesa a questionar os hábitos de consumo do socialista francês.

Agressão foi ao meio-dia

Mas, apesar da celeuma levantada pela rapidez com que Jonathan Pinet descobriu a lebre, a polícia de Nova Iorque acaba de rever a hora em que se terá dado a agressão - em vez das 13h00 locais, terá sido uma hora mais cedo, pelo meio-dia. O que dará mais tempo para se espalhar a informação.

Esta revisão da hora põe em causa a estratégia que a defesa de Dominique Strauss-Kahn estaria a ensaiar. Segundo a imprensa francesa, DSK teria saído por volta do meio-dia, para almoçar com uma filha, num restaurante de Nova Iorque, o que tornaria impossível que a agressão se tivesse passado pelas 13h00. Com a nova hora, já é possível.

Muitos interessados em fazê-lo cair

Muitos políticos e personalidades públicas têm feito comentários sobre a tese da conspiração – ainda que sem quaisquer provas. Uma figura de direita, Christine Boutin, presidente do partido Cristão-Democrata, defende-a desde os primeiros momentos, diz o “Libération”: “Acredito verdadeiramente que montaram uma armadilha a Dominique Strauss-Khan na qual ele caiu”, declarou a ainda ministra. E quem lhe montou a armadilha, interroga o jornal francês, cujas simpatias de esquerda são bem conhecidas? “Pode vir do FMI, pode vir da direita francesa, pode vir da esquerda francesa.”

DSK é um homem que tem muito a perder, neste momento, se tiver cometido o erro colossal de que é acusado. Além de director do FMI, já há vários meses que as sondagens o davam consistentemente como o favorito nas eleições presidenciais francesas de 2012, tanto na primeira como na segunda volta –a reeleição de Sarkozy é tudo menos um dado adquirido. No entanto, Strauss-Kahn ainda não anunciara se seria candidato.

Dois próximos de DSK, Jean-Marie Le Guen e Jean-Christophe Cambadélis, dizem que este caso “não parece” do homem que conhecem. “Toda a gente sabe que a fraqueza dele é a sedução, as mulheres. Apanharam-no por aí. Quiseram decapitar o FMI e não tanto o candidato às primárias socialistas”, garante Michèle Sabban, vice-presidente do Conselho Regional de Ile-de-France, que evoca a tese do complô internacional

O Governo francês – UMP, tal como o Presidente Nicolas Sarkozy – já veio dizer que esta vergonha vivida ou causada pelo próprio director do FMI é um golpe contra a imagem da França.

“É certamente um acontecimento de grande significado”, para a reputação da França, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Alain Juppé”, citado pela AFP. “Mas não façamos julgamentos antes de estar concluída a investigação”, acrescentou. “Caberá à justiça norte-americana estabelecer os factos e fazer emergir a verdade.

in "PÚBLICO"

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